24 de fevereiro de 2015

Missões Jesuíticas e pensadores

Antes da expulsão dos jesuítas, diversas apreciações favoráveis ao seu trabalho foram publicadas por influentes autores europeus, como Montesquieu, que disse ser "uma glória para a Companhia de Jesus ter mostrado pela primeira vez ao mundo como é possível a união entre religião e humanidade", e, em termos semelhantes, d'Alembert louvou seu trabalho dizendo que "mediante a religião alcançaram os jesuítas no Paraguai uma autoridade moral apoiada puramente em sua arte de convencer e em seu modo suave de governo". Até o próprio Voltaire, que era um dos grandes inimigos da Companhia, os comparou a verdadeiros soberanos, legisladores e pontífices. Disse ele: "pareciam um triunfo da humanidade". 


Com suas falhas e contradições internas, trazidas à luz abundantemente pela pesquisa moderna, mas principalmente por suas conquistas positivas, as Missões jesuíticas exerceram um impacto profundo na vida das Américas. 

Para Aguirre o caráter revolucionário das reduções jesuíticas deriva "da premissa que lhes serve de ponto de partida, premissa que implica um expresso reconhecimento dos vínculos que costumam ligar as injustiças sociais com o atraso geral das sociedades. Por isso o sistema econômico missioneiro jesuíta se encaminha, desde o princípio, para conseguir o desenvolvimento econômico dos povos aborígines, para organizar uma ordem social e produtiva que permita aos indígenas americanos romperem as barreiras da miséria e terem uma alternativa distinta daquela que era se submeter à economia da encomienda, da mita e do latifúndio colonial. Os jesuítas não definiram o problema da justiça no plano jurídico, mas se propuseram a realizá-la no âmbito de um sistema econômico e social, onde a riqueza se acomodava às pautas de uma filosofia inspirada na noção cristã de igualdade entre todos os homens...".

Para Wolfgang Reinhard, por mais controversos que tenham sido os intentos dos jesuítas de adaptar a mensagem cristã às concepções autóctones e de promover uma mudança cultural dirigida, a empresa missioneira foi a melhor alternativa de que a América dispôs para levar adiante uma colonização que era, sob todos os aspectos, inevitável e que em outras esferas se revelou brutal, e por isso mesmo continuam a ter um apelo para o mundo moderno, onde a problemática integração dos povos indígenas remanescentes com as culturas de entorno ainda não encontrou soluções satisfatórias, uma opinião que era compartilhada com Darcy Ribeiro.

Unindo uma diligência evangelizadora intrépida com uma base cultural de alto gabarito, uma praticidade única na lida com os problemas que enfrentaram com um pensamento econômico, político e social arrojado e de amplo horizonte, sua atuação foi decisiva na formação da civilização americana moderna, e o estudo do seu exemplo de desenvolvimento auto-sustentado, onde o objetivo primário era o bem-estar e harmonia das populações através do estabelecimento de um modelo de vida sadia, significativa, solidária e justa para todos, pode ser de alguma forma ainda útil para a sociedade moderna, num continente que ainda sofre com as desigualdades sociais e onde os índios sobreviventes permanecem em muito marginalizados e despossuídos. 

Adicionalmente, as Missões são vistas também como parte integrante das identidades nacionais nos países americanos, e a importância do projeto jesuíta nas Américas é reforçada pelo fato de a UNESCO ter declarado como Patrimônio Mundial um significativo grupo de monumentos missioneiros - seis na Bolívia, cinco na Argentina, dois no Paraguai e um no Brasil.

Conheça os 30 povos das Missões:
Argentina
Nuestra Señora de Loreto (1610)
Concepción de la Sierra (1619)
Corpus (1622)
Santa María la Mayor (1626)
Yapeyú (1627)
San Javier (1629)
La Cruz (1630)
San Carlos (1631)
San Ignacio Miní (1632)
Santo Tomé (1632)
Nuestra Señora de Santa Ana (1633)
Candelaria (1637-1665)
Apóstoles (1638)
San José (1638-1660)
Mártires (1639)


Brasil
São Francisco de Borja (1682)
São Luiz Gonzaga (1687)
São Miguel Arcanjo (1687)
São Nicolau (1687)
São Lourenço Mártir (1690)
São João Batista (1697)
Santo Ângelo Custódio (1706-1707)


Paraguai
San Ignacio Guazú (1609)
Encarnación de Itapua (1615)
San Cosme y Damián (1632)
Santa María de Fe (1647)
Santiago (1651-1669)
Jesús de Tavarangue (1685)
Santa Rosa de Lima (1698)
La Santísima Trinidad de Paraná (1706) 


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