13 de fevereiro de 2016

Sepé Tiaraju: 260 anos inspirando lutas e ideais

Nos últimos anos das Missões Guaranis, entre a morte de Sepé Tiaraju, em 1756, e a expulsão de todos os jesuítas da América do Sul, no ano de 1768, Voltaire pronunciou sua famosa frase: “A experiência cristã das Missões Guaranis representa um verdadeiro triunfo da humanidade”.

No ano de 1979, mais de dois séculos depois, a UNESCO, organismo das Nações Unidas para Educação e Cultura, tombou as Ruínas de São Miguel Arcanjo como Patrimônio da Humanidade. Nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, e nos 26 que existiram em território hoje da Argentina e Paraguai, a paz resultava do trabalho comunitário e cooperativo, cujos frutos eram divididos entre todos os habitantes.

José Tiaraju, mais conhecido como Sepé, o “Facho de Luz”, era corregedor da Redução de São Miguel, ou seja, "prefeito" da cidade, eleito pelos concidadãos índios guaranis, quando da assinatura do Tratado Madri, em 1750. Por esse tratado, os reis de Portugal e Espanha trocavam os Sete Povos das Missões pela Colônia do Sacramento, obrigando cerca de 50 mil índios cristãos a abandonarem suas cidades, igrejas, lavouras, fazendas, onde criavam dois milhões de cabeças de gado e, principalmente, a abandonarem a terra de seus ancestrais.


Insurgindo-se contra esse tratado, Sepé Tiaraju liderou a resistência dos índios guaranis, pronunciando a famosa frase, decantada no Rio Grande do Sul, em prosa e verso: “Esta terra tem dono”. Ao final da luta, Sepé Tiaraju tombou em combate no dia 7 de fevereiro de 1756, enfrentando tropas portuguesas e espanholas no local chamado Batovi, hoje cidade de São Gabriel.

Três dias depois, no dia 10 de fevereiro, mil e quinhentos índios foram trucidados na batalha do Caiboaté, não havendo oficialmente nenhuma baixa nos exércitos invasores. Poucos meses depois, nada mais existia do sonho missioneiro de uma sociedade cristã, mas o povo do Rio Grande do Sul, por sua própria conta, canonizou o herói guarani missioneiro como São Sepé, nome dado ao arroio, à margem do qual passou sua última noite, e à atual cidade de São Sepé.

O dia 7 de fevereiro marca a morte de Sepé Tiaraju. A lembrança do herói missioneiro, que morreu na luta contra os dois maiores impérios da época e na defesa da terra e de seu povo, reascende a mística da luta popular. O povo indígena, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, oprimidos de toda a América Latina se unem para gritar contra os impérios do século 21: “Alto lá! Esta terra tem dono!”

O município de São Gabriel, Diocese de Bagé, RS, foi o cenário da 39ª edição da Romaria da Terra, nesta terça-feira, 9 de fevereiro, com o tema “Cuidar da Terra, Casa Comum”, o evento celebrou os 260 anos do martírio do índio Sepé Tiaraju e de seus mil e quinhentos companheiros em sua luta pela Terra e pela vida. Cerca de 12 mil pessoas participaram da 39º Romaria da Terra do Rio Grande do Sul. Aconteceram também o 10º Encontro do Povo Guarani e o 11º Acampamento da Juventude.
Entre lideranças, rezadores, mulheres, homens, jovens e crianças, participaram do encontro no sul do Brasil representantes dos povos Guarani Mbya e Avá do Brasil e da Argentina, Kaiowá e Ñandeva do Mato Grosso do Sul e do povo Kaingang.

Os mais de 600 indígenas que estiveram presentes no 10º Encontro Sepé Tiaraju, que ocorreu entre os dias 5 e 8 de fevereiro de 2016 em São Gabriel (RS), divulgaram o documento final do já tradicional encontro do povo Guarani. A carta reafirma a resistência dos indígenas e sua luta por seus direitos, seus territórios e o respeito a seu modo de vida tradicional. Confira o documento na íntegra abaixo:


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