6 de dezembro de 2015

O Natal no tempo das Missões Jesuíticas

Os presépios missioneiros do século XVII eram adornados com esculturas em madeira. O novo ofício de fazer santos exigiu como todas as artes novas na América, um mestre e um aprendiz. No caso particular do aprendiz escultor Guarani, deve-se mencionar que o índio não só aprendeu bem e rapidamente, como tinha uma excelente habilidade até então desconhecida, o que lhe permitiu assimilar o conceito substancial de "divindade" envolvido na arte. Horacio Bollini abordou a empatia deste fluxo artístico (Guarani-jesuíta) em seu livro "La imaginéria en las Misiones".

A escritora Rosita Escalada Salvo aborda o Natal com elementos verdadeiramente locais, não menos simbólicos e tradicionais do que aqueles com os quais o imaginário coletivo construiu seu evento teatral da Bíblia. 


O padre jesuíta Antonio Sepp na redução San Jose, relata a reação e a devoção do Guarani ante o presépio e imagens do Menino Jesus com seus pais em um festival de Natal da redução de Sao Jõao Batista. Em dezembro há muitos frutos e vegetação, o que fez com que os Guaranis criassem um presépio muito diferente daquele realizado na Europa, adornada de flores e frutos. Até hoje esta cultura se mantém no Paraguai. A decoração é como uma oferta de uma variedade de formas de chipa, frutas, broto de arroz e frutos silvestres. Até hoje, no Paraguai, melancia, melão, uvas, abacaxi e romã são colocados na frente do presépio, e a flor de coco é a mais tradicional das flores usadas.

Escritos do padre Montoya falam sobre a beleza e religiosidade das festividades natalinas nas Missões. Padre Antonio Sepp escreveu:
“(…) Natal (…) Para que o sacrosanto misterio também se apresentasse aos olhos edifiquei sobre o altar um presepiozinho. Ainda que nada esplêndido, os índios o contemplam repletos de júbilo e o veneravam cos pasmosa devoção. Para mais os afervorar e atrair, exibi com muita graça uns dansarinos masculinos, que alegrassem e alentassem o Menino Jesús ao som da cítara. Feito isso, os meus pequenos executaram en sua lengua indígena um canto geórgico-pastoril, enquanto os Anjos embalavam Jesús Infante no berço em que dormia. Tudo isso, como adverti, suscitara terníssima devoção na alma dos índios.”

O presépio Missioneiro de Santa Maria de Fé, Paraguai:


Jesus, rodeado pela Virgem Maria, os pastores, os Magos e os animais do estábulo... O encenamento do Natal, a obra barroca talhada em madeira entre os séculos XVII e XVIII, capta a atenção de turistas que visitam o Museu de Arte jesuíta de Santa Maria de Fé.

É fundamental lembrar que na missão de Santa Maria de Fé houve uma importante oficina onde os mestres José Brassanelli e Antonio Sepp trabalharam. A quinta sala do museu abriga um conjunto maravilhoso do presépio, que encena o nascimento de Jesus, os pastores e os três reis magos, além dos animais. Jesus na manjerona não é o mesmo que originalmente compunha o conjunto. "Em 1983, uma ordem superior de Gral. Alfredo Stroessner, fez com que o Menino na manjedoura fosse dado por ele a um amigo brasileiro que trouxe-o para o Brasil." A visita a este museu é muito emocionante, e consegue ser ainda mais quando entramos na sala que apresenta o presépio, realmente insquecível!

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