16 de dezembro de 2015

A vida na redução: a igreja

Muitos pesquisadores dizem que a igreja da missão representa o edifício mais importante, sendo localizada e representando o centro da cidade. Um dos fatores evidentes na arquitetura das reduções eram as características de suas igrejas. A presença de padres de proveniências diversas e com diferentes formações, dentre os quais alguns arquitetos, moldaram, dentro da tipologia geral, certas características peculiares para cada povoado. Os edifícios mais requintados das reduções foram as igrejas, que envolveram a habilidade de arquitetos e artífices em sua construção. Sempre estiveram associadas, de um lado à casa dos padres e de outro ao cemitério.



Depois da fase inicial, caracterizada por construções simples, de utilização transitória, podemos descrever dois sistemas construtivos principais utilizados nas igrejas missioneiras: o das estruturas independentes de madeira e o das paredes portantes, em pedra. No primeiro caso o processo construtivo consistia em montar uma estrutura de madeira, composta por quatro carreiras paralelas de pilares alinhados entre si, que sustentam caibros nas duas laterais e tesouras de linhas altas, na cobertura da nave central.

Sua construção na primeira fase das Missões era inteiramente de madeira, mas foram utilizados materiais mais resistentes posteriormente.

O batistério era localizado na entrada ou dentro da sacristia. A torre do sino, de madeira, originalmente estava ao lado da igreja. Em breve, a madeira foi substituída por pedra e sino foi anexado à igreja.

Durante a segunda fase, que coincidiu cronologicamente com os últimos anos dos Jesuítas, a igreja se aproximou das características européias, especialmente na arquitetura jesuítica metropolitana. Como na igreja de Gesú, em Roma, tinham uma grande nave central, forma de cruz e uma grande cúpula . A presença de dois ou quatro corredores de tamanho pequeno foi uma das características arquitetônicas típicas das igrejas das reduções.

Igreja de Jesú e Igreja das Ruínas de São Miguel Arcanjo

Ruínas da igreja de Santo Ângelo Custódio

Ruínas da igreja de São Luiz Gonzaga

Em algumas igrejas, a ornamentação era exuberante e, por vezes, a fachada principal era maior do que a nave.

Os pilares possuíam bases quadrangulares ou cilíndricas e às vezes eram entalhados. As paredes externas de pedra ou adobe os envolviam, possuindo o dobro de sua espessura. Posteriormente estas paredes eram rebocadas e pintadas, recebendo ornamentos em profusão. Internamente, conformavam um salão retangular dividido em três naves, com três portas frontais e, no mínimo duas laterais, uma para o cemitério e a outra para o claustro. Geralmente a capela-mór ocupava o espaço da nave central, e nas suas laterais estavam as duas sacristias, com portas para a mesma. A cobertura, em duas águas, geralmente avançava sobre o alinhamento da fachada, formando um alpendre frontal apoiado em quatro pilares, às vezes com três arcos que correspondem aos acessos à igreja.

O forro da nave central geralmente possuía abóbada de berço de madeira e o das laterais com abóbadas de aresta de madeira ou tijolos. Sobre a capela mor, localizava-se uma abóbada de meia laranja, estruturada sobre um tambor de madeira, com coberturas planas. A maior parte das igrejas missioneiras possuía apenas uma torre ou campanário, que se localizava independentemente no lado oposto ao batistério. 

São poucas as obras desta fase concluídas antes da expulsão dos jesuítas. Nesta época foi descoberta e utilizada a cal na região, usada apenas nas igrejas de São Miguel e de Trinidad, no Paraguai. Ambas foram projetadas pelo mesmo arquiteto (Gian Battista Primoli) e chama atenção a sua semelhança:

Igreja da missão de São Miguel Arcanjo - atual território brasileiro

Santíssima Trinidad del Paraná - atual território paraguaio

Segundo o Capitão Espanhol D. Francisco Graell, que visitou a igreja de São Miguel em 1756, 
"A igreja é muito grande, toda em pedra grês, com três naves em ‘meia-laranja’, muito bem pintada e dourada, com um pórtico magnífico e de belíssima arquitetura; as abóbadas em forma de meia laranja são de madeira; o altar-mor é de entalhes sem dourar, faltando-lhe a última parte: no cruzeiro há três altares esculpidos, dois em estilo italiano, também dourados."

Nenhum comentário: