2 de fevereiro de 2015

Sepé Tiaraju

No dia 7 de fevereiro de 2015, completam-se 259 anos da morte de Sepé Tiaraju, símbolo da resistência guarani.


Nos últimos anos das Missões Guaranis, entre a morte de Sepé Tiaraju, em 1756, e a expulsão de todos os jesuítas da América do Sul, no ano de 1768, Voltaire pronunciou sua famosa frase: “A experiência cristã das Missões Guaranis representa um verdadeiro triunfo da humanidade”. No ano de 1979, mais de dois séculos depois, a UNESCO, organismo das Nações Unidas para Educação e Cultura, tombou as Ruínas de São Miguel Arcanjo como Patrimônio da Humanidade. Nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, e nos 26 que existiram em território hoje da Argentina e Paraguai, a paz resultava do trabalho comunitário e cooperativo, cujos frutos eram divididos entre todos os habitantes. Não havia convivência da riqueza com a miséria. Guarani, em seu próprio idioma, significa guerreiro. Esses guerreiros, homens e mulheres, endereçaram suas energias para tarefas pacíficas, chegando ao ponto de imprimir livros, fundir sinos de bronze, fabricar violinos e compor música para tocá-los. 

José Tiaraju, mais conhecido como Sepé, o “Facho de Luz”, era corregedor da Redução de São Miguel, ou seja, prefeito da cidade, eleito pelos concidadãos índios guaranis, quando da assinatura do Tratado Madri, em 1750. Por esse tratado, os reis de Portugal e Espanha trocavam os Sete Povos das Missões pela Colônia do Sacramento, obrigando cerca de 50 mil índios cristãos a abandonarem suas cidades, igrejas, lavouras, fazendas, onde criavam dois milhões de cabeças de gado e, principalmente, a abandonarem a terra de seus ancestrais. Insurgindo-se contra esse tratado espúrio, Sepé Tiaraju liderou a resistência dos índios guaranis, pronunciando a famosa frase, decantada no Rio Grande do Sul, em prosa e verso: “Esta terra tem dono”. 

Ao final da luta, Sepé Tiaraju tombou em combate no dia 7 de fevereiro de 1756, enfrentando tropas portuguesas e espanholas no local chamado Batovi, hoje cidade de São Gabriel. Três dias depois, no dia 10 de fevereiro, mil e quinhentos índios foram trucidados na batalha do Caiboaté, não havendo oficialmente nenhuma baixa nos exércitos invasores. Poucos meses depois, nada mais existia do sonho missioneiro de uma sociedade cristã, mas o povo do Rio Grande do Sul, por sua própria conta, canonizou o herói guarani missioneiro como São Sepé, nome dado ao arroio, à margem do qual passou sua última noite, e à atual cidade de São Sepé. 

O dia 7 de fevereiro marca a morte de Sepé Tiaraju. A lembrança do herói missioneiro, que morreu na luta contra os dois maiores impérios da época e na defesa da terra e de seu povo, reascende a mística da luta popular. O povo indígena, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, oprimidos de toda a América Latina se unem para gritar contra os impérios do século 21: “Alto lá! Esta terra tem dono!”

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