28 de fevereiro de 2014

"A Beija-flor é Guarani": relembrando o desfile campeão do carnaval carioca

Em clima de carnaval, relembramos hoje o desfile campeão do carnaval do Rio de Janeiro de 2005. Os sete povos das Missões foram enredo da escola Beija-Flor de Nilópolis: "O Vento Corta as Terras dos Pampas. Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani, Sete Povos na Fé e na Dor... Sete Missões de Amor!"


A escola entrou na avenida com cerca de 500 atores, abusando das alas coreografadas, que impressionaram a platéia e a mídia com interpretações ousadas de temas religiosos.



A Beija-Flor de Nilópolis encerrou o Carnaval do Grupo Especial do Rio naquele ano, conquistando o tricampeonato.

O modo de vida dos índios guaranis antes da chegada dos jesuítas foi representado. Em seguida, a agremiação representou o contraste entre as culturas européia e indígena e a maneira como os índios assimilaram conhecimentos de pintura, escultura e música.  As baianas representaram as artes e ofícios missioneiros. As baianinhas representaram a redução de São João Batista.


O fim do período de catequização mostra o tratado de Madri, que revogou o de Tordesilhas e deu à Coroa Portuguesa o direito formal ao território gaúcho.


O fim do desfile marcou a chegada dos imigrantes à região, especialmente os italianos, e o que ficou das lições passadas pelos jesuítas.



Na época, a comissão de carnaval (Laíla, Cid Carvalho, Fran-Sérgio, Shangai e Ubiratan Silva) escreveu:



''Sul da América do Sul, o vento corta as terras dos pampas e o índio guarani é o senhor do seu tempo; tempo que trouxe os padres jesuítas e que se encarregou de multiplicar o gado e "civilizar" o índio em nome do Criador.
Ergueu-se ali, em território bravio, um verdadeiro império da opinião. Um Reino da fartura e do bem estar coletivo, que gerou Sete Missões de Amor.
A fama das Missões, também chamadas cidades perfeitas ou o novo paraíso, cortou as terras dos pampas e despertou a insanidade do sertanista bandeirante, que surgiu sorrateiro, ávido pelo mesmo gado e pelo mesmo índio civilizado.
Mas, aquelas terras tinham dono e da coragem do guerreiro manifestou-se a resistência: louvado seja. Sepé Tiarajú que, com a própria vida, defendeu as Missões e a nação Guarani.
A ação missioneira que pretendemos mostrar não poderia, dessa maneira, decifrar-se unicamente na apreciação dos monumentos que se adivinharam nas fantásticas ruínas das Missões, nem nas estátuas ou na coleção de peças dessa origem recolhidas aos museus.
Faltar-lhe-ia alguma coisa.
E esse seria a própria alma que vitalizara esses mudos atestados de um mundo diferente em que palpitava a vida em gestos admiráveis de fé, em vibrações inspiradoras e fortes.


Cabe hoje, a todos nós, tocados pelos ventos do passado e embalados pelos ventos do presente, preservarmos as brisas que estão por vir; Com a alma guarani, nos tornamos verdadeiros guerreiros, defensores da nossa cultura, carregando nos próprios ombros as pedras e tijolos que manterão firmes os alicerces das nossas raízes e erguer, com o suor da nossa memória, os templos indestrutíveis da nossa história.

História de fé e dor;
De lutas e batalhas sangrentas, mas acima de tudo, de infinita resistência.
História de um povo, sobretudo forte e que se somando a tantos outros vindos de várias partes do mundo, fez triunfar no sul do nosso território, um Brasil de diversos sotaques, de variadas cores e múltiplos sabores.''



Confira o desfile completo:





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