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15 de março de 2014

Arquitetura missioneira

Através dos mais diversos remanescentes artísticos e culturais do período missioneiro torna-se possível reconstruir a memória das reduções jesuíticas na bacia do Rio da Prata. A arquitetura também aparece como um destes testemunhos.


A arquitetura missioneira desenvolveu-se adaptando os padrões culturais europeus e a experiência dos nativos às condições materiais da região. As edificações missioneiras caracterizam-se pela presença de alpendres, para a proteção do calor e das chuvas e pelos grandes pátios internos, também alpendrados, da tradição européia, sempre presentes nas edificações principais.

A argila local era utilizada nas olarias missioneiras para fazer tijolos, pisos cerâmicos e telhas. A tabatinga, um barro esbranquiçado encontrado junto aos córregos, era utilizada como tinta para branquear as construções. O arenito, de diferentes veios e resistências, era utilizado nas construções e nos trabalhos de cantaria. A pedra itacurú, também conhecida como pedra cupim, era utilizada para fundações e para extração do ferro com que se fabricavam equipamentos, sinos e ferragens. O cedro (Cedrela Tubiflora) era a principal madeira utilizada nas construções e esculturas. Também o couro era utilizado em correarias e no mobiliário.

Um dos fatores evidentes de diferenciação na arquitetura das reduções eram as características de suas igrejas. A presença de padres de proveniências diversas e com diferentes formações, dentre os quais alguns arquitetos, moldaram, dentro da tipologia geral, certas características peculiares para cada povoado. Os edifícios mais requintados das reduções foram as igrejas, que envolveram a habilidade de arquitetos e artífices em sua construção.

O padre Bartolomé Cardenosa projetou várias igrejas de diferentes reduções iniciadas por volta de 1634, sendo seu sucessor Domingo Torres, no trabalho da igreja da redução de São Nicolau (hoje em território gaúcho). A confirmação de sua presença aqui, consta no catálogo de 1678, que continha o seu nome. Ele colaborou em outros trabalhos de reduções como San Carlos, Loreto e San Ignacio Mini.

No fim do século XVII, chegaram ao Vice-Reino do Rio da Prata Antonio Sepp e Juan Kraus, considerados alguns dos melhores arquitetos que operam nestas terras. O primeiro projetou a igreja da redução de São João Batista, cuja obra continuou Juan Kraus. Este último trabalhou em mais uma redução, San Tomé, na construção da igreja.

O arquiteto José Brasanelli, que também foi um importante escultor e pintor, trabalhou na igreja de Itapuã, São Borja, Loreto e Santa Ana. Também se acredita que participou da idealização da igreja de San Javier e San Ignacio Mini.

San Ignacio Miní (Argentina)
Gian Baptista Primoli foi o mais notável arquiteto que trabalhou nas reduções. Ele foi o autor de vários edifícios em Buenos Aires e Córdoba. Projetou, entre outras, as igrejas de São Miguel, Concepcion e Trinidad. Sabe-se que Andrés Bianchi colaborou com Primoli; e que o padre José Grimau, Catalão arquiteto e pintor, realizou, junto com Primoli, o trabalho da igreja na redução da Trinidad.

Nas igrejas das reduções de São Miguel (Brasil) e Trinidad (Paraguai), percebe-se grande semelhança arquitetônica. Em ambas, o arquiteto utilizou cal para cobertura das paredes.

São Miguel das Missões

Redução de Trinidad del Parana (Paraguai),
com a torre no lado oposto da de São Miguel Arcanjo.

Outro ponto fundamental da arquitetura barroca missioneira é a presença dos índios como elementos importantes da realização destas grandiosas obras. A arquitetura missioneira, de modo particular, não representa aspectos do habitat originário dos grupos étnicos tupi-guaranis ou sequer a simples importação de projetos arquitetônicos europeus. Na verdade, a junção destes elementos foi o que resultou em uma identidade missioneira complexa.



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