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12 de fevereiro de 2014

Os 30 povos das Missões - parte III

Há mais de 400 anos, em terras do Brasil, Argentina e Paraguai, Jesuítas e Guaranis construíram uma história sem precedentes, que impressiona a cada nova descoberta. E ainda há muito para se descobrir.

Não há dúvidas, o legado missioneiro está presente na escultura, na arquitetura, nos patrimônios materiais, que saltam aos olhos. Porém, a maior herança está na maneira de ser dos herdeiros desta história, nos elementos básicos da cultura gaúcha, argentina e paraguaia, nos heróis, no imaginário e na fé.


30 povos missioneiros e território alcançado por suas estâncias
Hoje vamos passear pelas Missões Orientais, a leste do rio Uruguai, os "Sete Povos das Missões", as Missões do atual território brasileiro.

São Francisco de Borja (1682)

 

Fundada em 1682 pelo jesuíta espanhol Padre Francisco Garcia, foi o primeiro dos Sete Povos Missioneiros fundado na segunda fase das Missões. Na liderança de 1.952 pessoas, o padre jesuíta Francisco Garcia atravessou o Rio Uruguai para fundar uma colônia em sua margem esquerda.

Este seria o primeiro de uma série de retornos que trariam de volta ao solo gaúcho os guaranis catequizados pela Companhia de Jesus.

Há poucos resquícios materiais no município de suas origens históricas, porém há um crescente interesse e esforço coletivo em buscar evidências históricas desta redução. O museu Apparício Silva Rillo, renovado recentemente, conta com diversas peças do período missioneiro, entre quadros, estátuas e objetos sacros em madeira e ferro.

Cabe destacar a influência do Jesuíta Giuseppe Brazanelli (Irmão Brazanelli), mestre nas artes, que nos nove anos que passou em São Borja, resultou em muitas obras de destaque.

O município atual chama-se São Borja e é berço de Getúlio Dorneles Vargas e João Belchior Marques Goulart, e por isso é chamada de "Terra dos presidentes".

São Luiz Gonzaga (1687)

  

A redução de São Luiz Gonzaga foi fundada pelo Padre Miguel Fernandes em 1687, que, vindo da redução de Concepción de Nuestra Señora (hoje Concepción de la Sierra, Argentina), com cerca de três mil índios cristianizados, deu início à nova povoação. Foi terra natal de José Tiaraju, o Sepé Tiaraju.

São Luiz também possui poucos vestígios da antiga Redução de São Luiz Gonzaga, que estava situada no centro da atual cidade, sobre o qual foram construídas as primeiras edificações da nova ocupação. Nas construções em volta da Praça principal ainda se encontram blocos de pedra Itacuru, bases e pilares de pedra arenito, remanescentes do antigo povoado. 

A igreja Matriz, construída sobre os vestígios da antiga redução tem características Neo-góticas. Possui 13 imagens do período Missioneiro do século XVIII, declaradas Patrimônio Nacional. 

Conta com o Museu Arqueológico de Sao Luiz Gonzaga: O acervo do museu é constituído pelo material arqueológico resgatado durante a pesquisa realizada a partir de 1985, pelo professor Arno Kern. São peças em cerâmica, pedras, ossos, louças, vidros, etc. que permitem compreender parte da experiência jesuítico-guarani, a partir do resgate do modo de vida deste povoado.

São Luiz Gonzaga conta com importante produção cultural, com grandes poetas e músicos, sendo considerada Capital da Música Missioneira.

São Miguel Arcanjo (1687)

 

Dos antigos sete povos jesuítico-guaranis que ficaram no território gaúcho, São Miguel se destaca por apresentar grande número de estruturas e em melhor estado de conservação. Motivo pelo qual, em 1983, foi declarado Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO, Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura.

Os remanescentes nos permitem ter uma ideia da planta da Redução, da dimensão e do grau de sofisticação que atingiu a obra, aqui realizada por padres e índios. Da antiga Redução, ainda são visíveis as fundações do colégio, das oficinas, do cemitério, do cotiguaçú, do tambo e das casas dos índios; bem como a igreja, com estrutura portante em pedra arenito, que era pintada de branco e tinha seus espaços interiores ornamentados com pinturas e esculturas de madeira policromada. Pode-se ver, também, a praça, o pomar e a horta. Dentro do Sítio Arqueológico, se encontra o Museu das Missões, com importante coleção de estatuária missioneira. 

A visitação pode ser feita todos os dias das 9h às 12h e das 14h às 18h. À noite, se pode assistir o Espetáculo de Som e Luz. Com duração de 48 minutos, é apresentado todos os dias ao anoitecer em frente à Igreja do Patrimônio Histórico.

Também se pode conhecer a Fonte Missioneira, antiga fonte de abastecimento de água da redução. Foi esculpida em pedra grês. Localizada a um quilômetro ao sul do Sitio Arqueológico.

São Nicolau (1626 - primeiro ciclo - e 1687 - segundo ciclo)

São Nicolau foi fundada pelo padre Roque Gonzales em 1626, nas proximidades do Rio Piratini-mini. Sua população abandonou o local, devido aos ataques Bandeirantes, atravessando o Rio Uruguai.

Considerando a sua primeira data de fundação, em 1626, no primeiro ciclo missioneiro, é considerada a Primeira Querência Gaúcha.

Mais tarde, em 1687, o padre Miguel de Ampuero restabeleceu a povoação nas proximidades do local anterior. Sua população teve cerca de 7.700 habitantes em 1731.

A redução destacou-se por agrupar índios com grandes habilidades artísticas, que produziam pinturas e esculturas em madeira para várias reduções. O Sítio Arqueológico de São Nicolau foi objeto de importantes pesquisas de arqueologia histórica, onde foram evidenciados pisos cerâmicos e fundações dos prédios da antiga redução, que se distribuem sob toda a cidade atual.

É possível visitar também a antiga adega subterrânea dos padres e uma exposição sobre os trabalhos de escavação arqueológica, executados em 1980.

O Museu Municipal (1988) tem uma exposição totalmente voltada para a cultura jesuítico-guarani. A exposição está composta por peças encontradas durante as escavações do IPHAN, em 1979.

São Lourenço Mártir (1690):

A redução de São Lourenço Mártir, o 5º dos Sete Povos das Missões, foi fundada em 1690 pelo Padre Bernardo De La Veja, que veio de Santa Maria Maior, na Argentina, junto de 3512 índios. A população de São Lourenço chegou a 6.400 habitantes. Os primeiros relatos de viajantes do século XIX dizem que possuía uma igreja com cinco altares, todos com ornatos dourados e de grande desenvolvimento artístico. Na igreja havia uma grande imagem de São Lourenço, seu padroeiro, provavelmente a que hoje se encontra no Museu das Missões em São Miguel.

Hoje o Sítio Arqueológico, no município de São Luiz Gonzaga, tem remanescentes da Igreja, do cemitério, do colégio e o espaço da quinta da antiga redução. A entrada para visitação é franca.

O sítio arqueológico fica localizado a 30 Km de São Luiz Gonzaga, pela BR 285. Pode ser visitado todos os dias das 8h às 12h e das 13h30min às 18h.



São João Batista (1697):


A Redução Jesuítica de São João Batista, o 6º dos Sete Povos das Missões, fica no atual município de Entre-Ijuís. O povoado originou-se em função do crescimento da população de São Miguel Arcanjo, a 24km, de onde saíram 2832 índios em 1697, aos cuidados do padre Antônio Sepp.

São João Batista se destacou por ser a primeira fundição de ferro do atual território brasileiro e pelo grande desenvolvimento das habilidades artísticas (arquitetura, produção de variados instrumentos musicais e corais). No povo de São João Batista haviam artistas de todas as profissões, orientados pelo Padre Sepp. Sua presença na região missioneira possibilitou uma rápida evolução das artes em geral e principalmente da música. Foi o local da criação da Harpa Paraguaia.

Hoje pode-se observar restos da estrutura do cemitério, da igreja e do colégio, além de estruturas complementares como olarias, barragem e estradas. Uma exposição com achados arqueológicos e a trilha de interpretação eco-cultural complementam o roteiro de visita.

O Sítio também mantém um monumento em homenagem ao padre Antônio Sepp. A obra feita em pedra é datada de 1959 e se confunde com as ruínas da própria redução, reproduzindo a figura dos pioneiros da siderurgia no país.

Pode ser visitado todos os dias das 9h às 17h.

Santo Ângelo Custódio (1707):



Sua população anteriormente habitara Concepción. Acredita-se que primeiramente a redução foi instalada nas proximidades da forqueta dos rios Ijuí e Ijuizinho. Em 1707, teria sido transferida para o local do atual centro histórico, com 2879 pessoas sob o comando do padre Diogo de Hasse. Obteve grande desenvolvimento econômico e cultural, beirando os 8 mil habitantes no seu apogeu.

O povoado missioneiro de Santo Ângelo Custódio se caracterizava pela semelhança aos demais povoados jesuítico-guarani, tendo, porém diferença em relação à localização da igreja, que tinha sua frente voltada para o sul.

A Catedral Angelopolitana da atual Santo Ângelo-RS foi construída em 1929 e seu estilo lembra o templo da redução de São Miguel Arcanjo. Está localizada no mesmo lugar da antiga igreja da redução de Santo Ângelo Custódio. Há no alto do pórtico imagens esculpidas em pedra grês, representando os santos padroeiros dos Sete Povos das Missões.

O Museu Municipal Dr. José Olavo Machado está localizado no centro histórico da cidade, nas proximidades da Prefeitura Municipal e da Catedral Angelopolitana.

Em 2006, foram feitas escavações arqueológicas em torno da Catedral e na Praça Pinheiro Machado. As escavações demonstraram a existência de inúmeros materiais utilizados no tempo da redução jesuítica. Além disso, foi descoberto parte do piso da redução.


Não deixe de conhecer, ainda, os diversos municípios da Rota Missões, que permitem uma total compreensão da experiência missioneira em terras gaúchas. Os missioneiros te esperam!

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